No meio da disputa judicial, a pequena Minaçu, com cerca de 30 mil habitantes, apresentou grande expansão na receita de seus envios do material ao exterior nos últimos anos. A alta foi acima de 55% entre 2021 (US$ 61,4 milhões) e 2022 (US$ 96,6 milhões), segundo dados da Comex. Em 2023, o valor seguiu ao nível semelhante, com US$ 95,9 milhões. "A guerra da Ucrânia levou muitos países a garantirem o abastecimento de amianto. Quando houve restrições às exportações da Rússia, muitos buscaram alternativas, como no Brasil", afirma Giannasi, que é presença constante em fóruns internacionais sobre o amianto.
"A cidade vai acabar"
O antropólogo Arthur Pires Amaral morou por dez meses em Minaçu entre 2016 e 2017 visando escrever sua tese de doutorado intitulada Com o peito cheio de pó, defendida na Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo se debruça sobre o amianto na cidade. Em 2017, seguindo a proibição pelo STF, Pires lembra que o clima era de grande pessimismo devido às perspectivas de fim da exploração do minério. "Os moradores diziam que a cidade ia acabar", conta. O antropólogo lembra que eram comuns as demissões em empregos ligados à exploração de amianto, incluindo de engenheiros.
A fundadora da Associação Brasileira dos Expostos por Amianto (ABREA), Fernanda Giannasi, aponta que a questão atualmente saiu de pauta. "O tema não é visto como prioridade, e há uma situação muito negativa. O prazo nos preocupa, já que não se sabe quando o processo terá um término", lamenta.
Sem limite de tolerância
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as fibras de amianto do tipo crisotila causam danos ao pulmão e são cancerígenas, não existindo limites de tolerância para exposição. Entre 1996 e 2017, a Fundacentro apontou mais de 3.000 mortes ligadas ao amianto no Brasil.
Giannasi aponta que todos incluídos na cadeia da exploração seguem expostos ao material. Desde a retirada do amianto das minas, passando pelo transporte terrestre e portuário, existem riscos, indica. Nos casos de acidentes com os caminhões transportando o material, não somente o próprio motorista como todos os presentes na pista podem sofrer a contaminação, lembra Giannasi.
"O amianto dominou não apenas a economia, mas também a cultura de Minaçu", Pires resume. "Nunca houve a construção de uma alternativa econômica durante estes 50 anos de exploração. Não se pensava sequer na possibilidade da mineração de amianto se exaurir", afirma. Neste cenário, os riscos envolvendo o material e os questionamentos à exploração ficaram de lado. "O desemprego aparece como um risco mais proeminente do que aqueles associados ao material. Há certo ocultamento dos adoecimentos", conta Pires.
Para a AVICAFE, ocultar o adoecimento, como não informar aos seus contratados dos riscos ao se expor ao amianto, é uma manobra que desde os anos 30, quando a SAMA chegou ao Brasil, e portou na MINA DE SÃO FELIX em Bom Jesus da Serra, 54 anos se passaram desde que ela partiu para Minaçu, deixando os ex-trabalhadores e seus familiares contaminados e contaminando até hoje quem por ali transita. O amianto é sem sombra de dúvidas um problema de saúde não só para a população dos países que importam o pó da morte, mas, principalmente para a população de Minaçu.