Após o grande sucesso de "Rosa Tirana" e suas contribuições marcantes para produções televisivas como "Mar do Sertão" e "Luz" na Netflix, além da recém-finalizada "Dona Beja" na HBO Max, o renomado diretor e produtor Rogério Sagui voltou a gravar o seu novo filme em sua cidade. Desta vez, Sagui escolheu novamente a cidade de Poções, localizada no sudoeste baiano, como o cenário para seu mais recente projeto: um envolvente curta-metragem.
O filme, que aborda a infância de quatro crianças em uma fascinante busca pela existência de um lobisomem durante a noite da quaresma, terá como pano de fundo o bairro fictício da COHAB 23.
Conhecido por sua habilidade singular em trabalhar a fantasia e capturar a essência da infância de maneira magnífica, Rogério Sagui já deixou sua marca em várias produções de sucesso anteriores. Sua abordagem única na condução de narrativas desse tipo tem conquistado tanto críticos quanto o público. A comunidade local aguarda com entusiasmo a filmagem que promete trazer à vida não apenas a história misteriosa que envolve as quatro crianças, mas também destacar a beleza única de Poções. Este curta-metragem promete ser mais uma peça brilhante na impressionante carreira de Rogério Sagui, que continua a surpreender e encantar com sua visão cinematográfica única.
Conheça a história do roteirista, diretor e cineasta Rogério Sagui
Rogério do Livramento Silva, popularmente conhecido como Rogério Sagui, um apelido que recebeu dos amigos de infância e adotou como nome artístico, é um diretor, roteirista, cineasta e produtor poçoense com indicações para prêmios em festivais nacionais e internacionais e atual diretor de novelas da Rede Globo.
Rogerio Sagui começou a trilhar seu caminho na arte ainda na infância, participando de grupos de ternos de reis da família. “Eu me lembro de sair acompanhando o ternos de reis desde criancinha com meus tios que têm grupos de reis até hoje, no Bairro Bela Vista, o Terno de São Sebastião, eu sempre acompanhei, sempre gostei daquilo, tanto das danças quanto do figurino, dos tambores, das melodias cantadas no reisado, sempre fiquei muito fascinado com aquilo”, conta.
Naquele tempo, sagui nem sabia que aquilo que fazia era arte. “O reisado era uma forma de vida, então ninguém falava que era arte, que era o artista do reis, até hoje ainda tem essa coisa, mas eu sei que desde ali eu já era artista. Eu já me vestia, já acompanhava, já fazia volume ali para o grupo cultural dos meus tios”.
Na pré-adolescência, sagui passou a participar do grupo Unijovem, lá aprendeu teatro e a dança que o acompanhou por muito tempo. Para ele, foi a partir da Unijovem, no início dos anos 2000, que ele passou a se entender e reconhecer como artista do teatro e da dança.
Em entrevista para o Site Coreto, Rogério Sagui conta um pouco sobre sua trajetória, fala sobre a inserção no mercado audiovisual, seus trabalhos e sobre suas experiências como diretor da atual novela das 18 horas da Rede Globo.
Da arte para a arte e o início no audiovisual
Sagui começou seu percurso no audiovisual após assistir ao filme Central do Brasil. O filme que tem direção de Walter Salles e foi escrito por João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, apresenta a história de Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, uma professora que trabalha como escritora de cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil e, ao encontrar Josué, após sua mãe ser atropelada, ambos embarcam na tentativa de encontrar o pai do menino que ele nunca conheceu, no interior do Nordeste.
“O Central do Brasil virou uma chavinha na minha cabeça e eu pensei, ‘eu preciso fazer isso’, esse tipo de arte que é o cinema, com essa música boa tocando, com essas interpretações, com esse cenário. Eu queria unir tudo que eu gostava da música, da dança, das artes cênicas e das artes plásticas tudo ali em um só lugar, então quando eu percebi que o cinema me possibilitava isso, falei ‘eu quero ser diretor’, eu quero escrever, ser roteirista e contar minhas histórias”.
No ano de 2015, Sagui deu vida ao seu primeiro trabalho no audiovisual com o documentário “As Memórias de um Quilombo Vivo” em que atua como roteirista, produtor e diretor. “As Memórias de um Quilombo vivo era uma história muito visceral e eu queria contar aquela história e ao mesmo tempo eu estava experimentando, em mim, o cinema. Pensava, como fazer isso? Uma história tão boa e eu iniciando no cinema, pensava que talvez a história não fosse para mim, mas aí eu fui encorajado pela própria população do local que falaram que tinha que ser eu, pois já os conhecia, para a gravar e contar as suas história”, conta.
O documentário As Memórias de um Quilombo Vivo foi lançado no ano de 2019 e traz histórias sobre a Comunidade Remanescente Quilombola da Lagoa do João, localizada no município de Poções. Por meio das lembranças, o documentário mostra as características, os valores culturais, emocionais e religiosos que guiam a narrativa, e assim, as histórias são contadas através de depoimentos dos próprios moradores.
O documentário As Memórias de um Quilombo Vivo percorreu e foi destaque na Bahia. Ainda em 2019 o documentário foi exposto na abertura da Feira Literária de Mucugê- Fligê. As Memórias de um Quilombo Vivo também esteve presente na Mostra de Cinema Negro da Universidade Federal da Bahia- UFBA, campus de Salvador, e na Mostra de Cinema Conquista. “Participar da Fligê foi motivo de muito orgulho para mim, principalmente porque naquele ano Castro Alves foi o homenageado”, diz sagui.
No entanto, esse percurso no cinema independente, não foi fácil e vários obstáculos foram encontrados. “Primeiro que nós íamos partir para fazer o cinema em Poções e não tínhamos o material, não tínhamos uma câmera boa, não tínhamos nenhum equipamento de som que são equipamentos básicos para produzir um filme ou um curta-metragem”, conta. Para Rogério Sagui, apesar de a cidade de Poções ser berço de cineastas renomados como Geraldo Sarno, Fernando Belens e Tuna Espinheira, a cidade nunca pensou cinema.
“Eu percebi que a cultura da nossa cidade nunca pensou o audiovisual. Tudo que tinha em promoção de eventos falava muito de outras culturas, mas nunca pensou se o jovem desta cidade quer dirigir ou quer fazer um curta-metragem, por exemplo. Meu primeiro contato com o audiovisual em Poções, foi no Cinema em Transe, que Gil e outros colegas realizavam, aconteciam na Câmara de Vereadores, uma galera se reunia exibia filmes e falavam sobre eles trazendo resenhas e comentário”.
Rogério Sagui destaca que a cidade de Poções nunca teve uma política pública que incentiva a produção audiovisual e, por isso, encontrava resistências quando em busca patrocínios para as produções. “Eu falava o que eu ia fazer e ouvia que isso não ia dar certo ou que ninguém fazia isso aqui em Poções, então foi difícil porque não falávamos disso, não produzíamos audiovisual. Eu me senti desbravando uma terra que eu sabia que já tinha sido desbravada, mas desbravava de uma outra forma, talvez de fora para dentro. Os cineastas desbravaram lá fora e são os cineastas de dentro da cidade, já eu queria desbravar de uma forma que eu não percebi que estava desbravando, de dentro da cidade para fora, que foi o que aconteceu comigo com a minha carreira” explica o diretor.
Rogério Sagui tem como principais referências cinematográficas os diretores e cineastas Geraldo Sarno e Walter Salles. Sagui bebe da fonte desses diretores, e é dessas fontes de um cinema poético que fala sobre o Brasil, que Sagui se inspira para as suas produções, como em Rosa Tirana.
Rosa Tirana é um longa-metragem que foi escrito, produzido e dirigido por Rogério Sagui e conta a história de Rosa, uma menina que vive no sertão com a sua mãe e o seu avô, mas que em decorrência da forte seca que assola a região, ela decide abandonar a família e partir numa viagem solitária, até encontrar Nossa Senhora Imaculada e clamar por ajuda. O filme é estrelado por Kiara Rocha e conta com a participação do ator José Dumont. Além disso, a trilha sonora original do filme, composta por Sagui, foi gravada pela consagrada cantora Elba Ramalho.
Sagui conta que a obra foi produzida em meio às dificuldades que o cinema independente enfrenta e teve que recorrer a rifas para custear os gastos. O filme ganhou visibilidade e indicações a prêmios em festivais de cinema nacionais e internacionais.
“O Rosa Tirana foi uma acontecimento que mudou toda minha história, e veio para coroar todo o meu trabalho e minha carreira mudou totalmente. Mudou não só a proporção, mas a minha visão de mundo também mudou, quando eu vi o Rosa Tirana circulando em meio a filmes da Europa, filmes que eu acho belíssimos, e o Rosa competindo ali, sempre nesses mesmos festivais e até ganhando prêmios em outras categorias junto com esses filmes, vi que a gente pode pensar realmente a nossa cultura de dentro para fora”.