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O que levou a maior padaria de São Paulo a pedir recuperação judicial com dívidas de R$ 73 milhões.

Pandemia e aumento nos custos e nos preços dos insumos estão no cerne da crise da empresa, que também é dona da conhecida marca de bolos e panetones Village.

01/02/2024 11h53 Atualizada há 9 meses
Por: redação Fonte: Exame
O que levou a maior padaria de São Paulo a pedir recuperação judicial com dívidas de R$ 73 milhões.

Grupo dono de uma das mais tradicionais padarias da cidade de São Paulo e de uma das mais populares fabricantes de bolos e panetones do país, o Cepam entrou com pedido de recuperação judicial. As dívidas alegadas pela empresa são de R$ 73,4 milhões. A companhia é responsável pela padaria Cepam, na zona leste da capital paulista, e pela marca de panetones e bolos Village.

Criada em 1968 na Rua Ibitirama, a Cepam é considerada a maior padaria de São Paulo. São 2,5 mil metros quadrados de espaço de atendimento, com aproximadamente:

16 mil pães franceses produzidos por dia
11,2 mil produtos vendidos diariamente
8 mil pessoas por final de semana
550 funcionários
“A Cepam é hoje mais do que uma panificadora, é um ponto de encontro de pessoas de todas as regiões da cidade, das mais variadas classes, origens, profissões e costumes, que vão em busca de qualidade, inovação e, principalmente, respeito ao cliente”, diz parte do pedido de recuperação judicial feito pela empresa.

Segundo a companhia, a queda das vendas durante a pandemia, o aumento na taxa de juro e os investimentos feitos no período foram os motivos que potencializam a crise da empresa.

Agora, a empresa aguarda que a Justiça aceite o pedido para seguir com o desenvolvimento do plano de reestruturação e a suspensão da cobrança de dívidas pelo período de 180 dias. Nesta terça-feira, 30, o juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da vara de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça de São Paulo, pediu mais documentos, como relatório de fluxo de caixa, para avaliar o pedido e decidir se o aceita ou não.



Qual é a história do Grupo Cepam
A história do Grupo Cepam começa há cerca de 14 anos antes da abertura da padaria. Em 1954, os amigos Germano Amaro e Antônio Diogo adquirem uma pequena panificadora na Vila Zelina, em São Paulo. Por lá, trabalham até 1968, quando decidem expandir a operação e criar uma nova padaria.

O novo ponto de venda fica na Rua Ibitirama e leva o nome de Cepam. A marca é uma homenagem ao Colégio Estadual Professor Américo de Moura, que na época ficava na mesma rua.

Três anos depois, a padaria começa a produzir bolos em larga escala, e em 1973, lançam a marca Cepam Village, para comercializar esses produtos.

É em 1981 que o grupo decide ampliar o espaço e a estrutura, passando a atuar também como restaurante, vendendo as famosas pizzas e os tradicionais almoços paulistanos, como feijoadas nas quartas-feiras e peixes às sextas-feiras.

Em 2006, mais um passo para o sucesso da padaria. Para comportar a demanda, a empresa passa por uma nova reforma, e salta de um espaço para 70 pessoas para um com capacidade de atender 320 clientes. É quando leva o selo de maior padaria de São Paulo.

“As requerentes tornaram não só referência na região que se encontram instaladas, mas essenciais para toda comunidade local, empregando cerca de 600 funcionários e participando ativamente de diversos projetos sociais, além de honrarem o compromisso com a qualidade e o propósito em servir os seus clientes e consumidores com a excelência que norteia o seu trabalho há mais de 50 anos, o que desejam as requerentes perpetrar”, diz a defesa da empresa no pedido de recuperação judicial.

Quais foram os motivos para a crise da Cepam
Em 2020, com a pandemia e a queda na demanda, a Cepam precisou tomar empréstimos bancários para pagar funcionários e cobrir os custos de operação. A empresa chegou a desenhar estratégias para otimizar a produção e honrar os compromissos, mas o alavancamento da operação e as taxas de juro, que subiram ao longo dos últimos anos, atrapalharam os planos da padaria.

“Conquanto tenha sido uma empresa amplamente rentável até o ano de 2019, as Requerentes tiveram uma queda drástica em seu faturamento refletido pela pandemia de covid-19, o que trouxe lento retorno do seguimento de negócio no mercado devido ao panorama mundial. Em razão disso, as Requerentes contam hoje com endividamento geral superior a R$ 70 milhões”, diz o pedido.

A partir daí, foi uma bola de neve. “ O prejuízo suportado neste cenário, não poderia ser outro, causando atrasos nos pagamentos de dívidas bancárias, reparcelamentos, retenções de pagamentos por bancos, bem como problemas com tributos e toda sua movimentação financeira. Por lógica, as Requerentes não mais conseguiam saldar pontualmente suas dívidas com fornecedores, instituições financeiras e bancárias”.

Segundo a empresa, praticamente todo endividamento foi contraído logo no início da pandemia. A padaria precisou fazer investimentos altos para continuar a funcionar, principalmente por meio de delivery. Foram contratados, por exemplo, 50 motoboys para fazer as entregas dos pedidos.

Além disso, uma das épocas de maiores vendas da empresa era a Páscoa. E já no primeiro ano, a Páscoa chegou praticamente um mês após a covid-19.

“Foram centenas de milhares de devoluções de ovos de Páscoa realizadas pelas grandes redes de super e hipermercados de todos os produtos da Village, pois a devasta maioria das entregas realizadas é na modalidade de consignação, o que gerou um prejuízo gravíssimo para as requerentes”, diz o documento.

Apenas para se colocar em números, a Páscoa de 2019 contou com uma venda, em número bruto, de R$ 32 milhões, enquanto a Páscoa de 2020 sofreu uma queda de 50%, com valor faturado de R$ 16 milhões.

“Vale mencionar, ainda, que, além dos efeitos da própria retração do mercado, os constantes e significativos aumentos nos preços dos insumos voltados para a produção, no triênio 2020; 2021 e 2022, pressionaram fortemente os custos operacionais, determinando margens de contribuição cada vez menores”.

Para fechar, um dos credores da empresa chegou a pedir falência do grupo no ano passado, o que fez com que outros credores corressem para buscar seus créditos, ajuizando ações de execução contra a empresa.

“O pedido de recuperação judicial da Cepam é mais um exemplo de como a pandemia de covid-19 afetou drasticamente a atividade empresarial e repercute até os dias de hoje”, afirma a advogada Giovanna Podcameni, especialista em direito empresarial do escritório Miguel Neto Advogados. “As empresas se viram não só forçadas a fecharem seus estabelecimentos e buscarem alternativas para manterem suas operações vivas, como também a contraírem vultuosos empréstimos e financiamentos, fato este até então inédito no caso da Cepam. Basta verificar sua lista de credores para constatar que a maior parte da dívida de cerca de R$ 74 milhões é composta por credores bancários e financeiros”.


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